
As memórias afetivas de Geovani Dellazeri (47) com o caminhão Mercedes Benz 1113, ano 1972, ainda são bastante presentes na vida do empresário de Encantado. Pelo período de dez anos, de 1998 a 2008, Dellazeri foi motorista do veículo fabricado na Alemanha e que chegou ao município para suprir uma demanda na área da segurança pública, configurando-se como o primeiro serviço de bombeiros de Encantado.
Há 15 anos sem pilotar o gigante vermelho, o empresário voltou a acelerar o veículo que tantas vidas ajudou a salvar – e muito fogo combater – no dia 4 de agosto, data em que comprou o lendário caminhão em um leilão organizado pela prefeitura de Encantado. Com um lance inicial de R$ 46 mil, o veículo foi arrematado por ele pelo valor de R$ 96 mil, mais R$ 4,7 mil do leiloeiro. “Foi emocionante voltar a dirigir este caminhão. Enquanto dirigia, me vinham muitas lembranças”, relata.
Ele conta que o caminhão possui um valor afetivo em sua vida. “Em 1997, passei no concurso público na prefeitura de Encantado para operador de máquina. Logo depois, no ano seguinte, o caminhão chegou à secretaria de Obras. Trabalhávamos eu, o secretário Luiz Hollmann, o Arno Schroeder e o Fernando Zanchett. Eu era motorista e, por isso, comecei a dirigir o caminhão que atendeu a muitos sinistros, apagou diversos incêndios e ajudou a salvar muitas vidas. Não tínhamos horário para nada. De dia e à noite, quando éramos chamados lá estávamos para apagar incêndios e ajudar em acidentes”, recorda.
Segundo Dellazeri, o trabalho com o caminhão era novidade para todos da pasta de Obras. “O caminhão veio usado, mas em muito bom estado. Estava equipado com tudo: um tanque muito bonito, compartimento para guardar as mangueiras, roupas, botas, máscaras e cilindros de oxigênio para combater o fogo. Aprendemos a utilizá-lo e a combater o fogo treinando e trabalhando. Foram muitas noites apagando incêndio e ajudando em acidentes e outros sinistros”, relata.
Ele cita um dos casos mais marcantes enquanto motorista do caminhão. “Tínhamos um colega, que infelizmente perdeu a vida em um acidente de trânsito. Fomos acionados para atender este sinistro e quando chegamos lá vimos que era ele. Ele faleceu carbonizado e tivemos que retirá-lo das ferragens. Foi um momento muito difícil”, lembra.
Agora, de posse do caminhão que marcou a sua história de vida como motorista, Dellazeri pretende restaurá-lo para, posteriormente, deixá-lo exposto e de prontidão no Moinho 332, estabelecimento comercial da família localizado na ERS-332, na Barra do Jacaré, em Encantado. “Quero comprar as peças que foram substituídas, as quais já encontrei em um ferro velho, para depois iniciar o processo de restauração, que será demorado e custoso. Aos poucos, pretendo deixá-lo como recebemos em 1998 e de guarnição para funcionar aqui no Moinho”, adianta.
Caminhão foi uma doação da Alemanha ao CCAE em 1998
Em agosto de 1997, o então prefeito Paulo Costi tomou conhecimento que o município de Feliz havia recebido um caminhão de bombeiros da Alemanha. Entrou em contato com Pedro Martini Neto, ex-vice-prefeito da cidade, então assessor do deputado Erny Petry, na tentativa de também conseguir um para Encantado.
O pedido foi formalizado por meio do Centro de Cultura Alemã de Encantado (CCAE), em uma ação conjunta com a Administração Municipal e Câmara de Vereadores, que aprovou o projeto de lei que autorizava a municipalidade a custear as despesas do transporte, equivalente a 70% do frete. O gabinete de Petry contribuiu para a liberação da documentação necessária.
Posteriormente, o CCAE recebeu um fax do Alto Comando Magistrado de Darmastad, na Alemanha, confirmando a doação. No mês de outubro de 1997, o prefeito, acompanhado por Pedro Martini, esteve na Alemanha e conferiu as boas condições do caminhão, um Mercedes Benz 1113, ano 72, com 21 mil quilômetros, equipado com todos os acessórios necessários ao seu bom desempenho, e com capacidade para 2,5 mil litros de água. Constatando que o veículo funcionava perfeitamente, efetivou o pagamento dos R$ 10,5 mil referente ao transporte. Após o desembarque, no Porto de Paranaguá, no Paraná, o veículo veio rodando até Encantado, tendo como motorista Luiz Hollmann.
No dia 2 de março de 1998, o caminhão, com a sirene ligada, desfilava pelas principais ruas de Encantado, pilotado pelo General de Bombeiros, Hartmut Schmidt, que veio da Alemanha realizar a entrega. Hartmut e a esposa Ingeborg foram recepcionados pelo prefeito e dirigentes do CCAE, sob os acordes da Banda Municipal. À noite, foram homenageados com um jantar, ao qual compareceram lideranças e empresários locais, ocasião em que Hartmut recebeu um cartão de prata que registrava o acontecimento. Ao CCAE também foi oferecido um cartão.
Conforme o advogado Carlos Alberto Schäffer, que, à época, presidia o CCAE, o caminhão foi doado pelas autoridades alemãs ao Centro de Cultura Alemã de Encantado e transferido ao município. “Estava concretizada, assim, uma das reivindicações mais antigas da população e o evento repercutiu em todo o Estado. O meu especial amigo e competentíssimo secretário do CCEA, Arbi Fischborn – numa compilação que fez sobre as atividades do Centro de Cultura Alemã de Encantado – registrou o acontecimento nos nossos arquivos e, me lembra, com a acuidade que lhe é própria, que passados desde lá até hoje, naquele tempo nós tinhas apenas ‘miseráveis (no sentido de poucos) 53 anos de idade’. O passar do tempo é, definitivamente, implacável. A passagem dos anos evidencia, também, que em termos de progresso de uma comunidade, as oportunidades, quando surgem, não podem nunca serem perdidas”, ressalta Schäffer.
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Texto - Jornalista, Carina Marques/Jornal Opinião
Foto - Carina Marques