FIERGS apresenta projeções econômicas e alerta para impactos das tarifas dos EUA
O Sistema FIERGS (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul) apresentou nesta terça-feira (9), em Porto Alegre, o balanço anual da entidade e as perspectivas econômicas para 2026, em coletiva realizada no Plenário A.J. Renner, na sede da entidade.
O encontro reuniu o presidente da federação, Claudio Bier, e o economista-chefe Giovani Baggio, que projetaram o desempenho da economia mundial, brasileira e gaúcha, destacaram os investimentos em educação do Sesi e Senai, e avaliaram os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre exportações industriais do Rio Grande do Sul.
Abrindo a apresentação, Baggio destacou que o PIB mundial deve crescer 3,2% em 2025 e 3,1% em 2026, em um ambiente internacional de estabilidade moderada.
Para o Brasil, a FIERGS projeta inflação de 4,5% em 2025 e 4,8% em 2026, com a taxa Selic mantida em 15% no próximo ano e início de queda previsto para março de 2026, podendo encerrar o período em 13,25%.
No mercado doméstico, o PIB brasileiro deve avançar 2,1% em 2025 e 1,9% em 2026. A dívida bruta deve permanecer próxima de 80% do PIB.
Entre os fatores de sustentação da demanda agregada, Baggio citou programas sociais, ampliação na isenção do Imposto de Renda, aumento real do salário mínimo e políticas de crédito, todos com impacto direto no consumo.
Segundo o economista-chefe, a combinação de inflação corrente menor, câmbio mais favorável e estímulos à renda pode aquecer ainda mais a economia, porém, com cautela.
“A economia já está aquecida e não desacelerou como se esperava para uma taxa de 15%. Mas as contas públicas no patamar atual não permitem um juro mais condizente com o crescimento econômico”, afirmou.
Rio Grande do Sul deve crescer acima da média nacional
A FIERGS projeta para o Rio Grande do Sul um crescimento de 1,6% em 2025 e 2,9% em 2026, impulsionado pela agropecuária, que deve registrar alta de 17,6% no próximo ano, e pela indústria, projetada em 0,8%.
Baggio destacou que a expectativa de safra cheia deve beneficiar não apenas o campo, mas também setores da indústria e do comércio.
“A safra positiva movimenta a agropecuária, segmentos industriais e o comércio. É esse cenário que explica o PIB gaúcho acima da média nacional”, avaliou.
Ele também chamou atenção para desafios estruturais após os eventos climáticos recentes, especialmente na área de infraestrutura.
“As ferrovias encolheram muito nos últimos 20 ou 30 anos. É um modal barato e que elevaria nossa competitividade. As concessões rodoviárias precisam avançar, mas sem tarifas pesadas, que acabam prejudicando empresas e consumidores”, refletiu o economista.
Também sobre as concessões de rodovias, ao ser questionado sobre a CPI dos pedágios na Assembleia Legislativa (ALRS), o presidente Claudio Bier defendeu cautela.
“Sou favorável ao pedágio com preço justo. Um preço alto também não sou favorável. A posição da FIERGS é essa. Mas a CPI, no nosso entendimento, neste momento, não é boa”, sustentou Bier.
Investimentos de R$ 419,5 milhões no Sesi e Senai
O presidente também destacou os investimentos recentes na área educacional, que totalizam R$ 419,5 milhões destinados ao Sesi e Senai no Estado.
“É um trabalho muito grande que fizemos junto ao Sesi, Senai e à Confederação Nacional da Indústria para trazer esses investimentos ao Rio Grande do Sul. E vamos trabalhar muito para aplicar esse dinheiro antes de 2027, porque aplicando temos condições de reivindicar mais”, afirmou.
Tarifas dos EUA preocupam indústria gaúcha
Tanto Claudio Bier quanto Giovani Baggio destacaram a preocupação com as tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, especialmente de produtos industriais.
Segundo Baggio, o Rio Grande do Sul está entre os estados mais afetados. “Só no último quadrimestre, perdemos mais de 250 milhões de dólares em exportações para os EUA. Se mantivermos o patamar atual de tarifas, a perda pode chegar a 900 milhões de dólares no próximo ano”, destacou.
Os setores mais impactados no Estado são fumo, madeira, calçados e móveis. Bier explicou que a FIERGS está atuando para mobilizar compradores americanos em defesa da revisão das tarifas.
“Estamos contratando lobistas para trabalhar com compradores nos EUA, para que pressionem o governo americano. Já aconteceu com a celulose, quando o preço triplicou lá e a tarifa caiu. Não depende só de nós, mas estamos trabalhando por isso”, afirmou o presidente.
A FIERGS estima que o Brasil deve gerar 911 mil empregos em 2026, sendo 46 mil no Rio Grande do Sul. Para Bier, infraestrutura é o ponto central para garantir competitividade.
“Precisamos avançar em portos, aeroportos e ferrovias. Sem isso, o Rio Grande do Sul perde competitividade”, garantiu.
Segundo a federação, as projeções servem como referência para orientar decisões, mas dependem da evolução do cenário nacional e internacional nos próximos meses.
Texto - César Augusto Husak
Foto - Dudu Leal/FIERGS

