Localizado na rua Monsenhor Scalabrini, centro da cidade, como diz o hino, está o imponente Instituto Estadual de Educação (IEE) Monsenhor Scalabrini ou “Scala” como é carinhosamente chamado. Educandário que faz parte da história de Encantado e que, no sábado (23), completou quatro décadas e meia formando cidadãos.

Com o intuito de comemorar, resgatar momentos, potencializar o protagonismo dos jovens estudantes, incentivar a formação de laços afetivos e promover práticas educativas para o futuro nasceu o projeto “Scalabrini... 45 anos, Sou parte desta história!”. De uma forma dinâmica, interativa e digital toda a comunidade escolar relata acontecimentos, por meio de suas vivências, junto a instituição.

-Passamos boa parte deste ano programando nossas ações que seriam físicas, sociais, com gincanas e que agora passaram para as redes sociais. E para nós integrantes da família Scalabrini não é surpresa, é mais um desafio. Toda a conquista foi a base de muita luta e cada uma foi sempre o resultado daquele que chegou antes. Hoje nós fazemos ações para que os próximos possam colher. E existe essa particularidade de família, união, construção, interação e trabalho sempre pensando no que tem a vir pela frente. O encantadense faz parte do Scalabrini e o Scalabrini faz parte do encantadense, não tem como separar, 99% passou por aqui e deixou sua marca, mas também ficou com a marca do Instituto. Para mim, é motivo de orgulho estar na direção nestes 45 anos. Acredito que sempre vencemos nossas dificuldades e não vai ser agora que vamos desistir. Estamos afastados fisicamente, mas mais unidos que nunca. Estamos conectados espiritualmente e no retorno faremos um Scalabrini ainda maior e melhor-, relata a diretora Rosemeri Radaelli.

Todos os registros – fotos, vídeos, desenhos, mensagens - vem sendo compartilhados pelos canais de comunicação da escola: Whatsapp (9 9581.9340), Instagram (@IEE.MONSENHORSCALABRINI), Facebook (I.E.E. MONSENHOR SCALABRINI/), e-mail (monsenhorscala@yahoo.com.br) e telefone (51 3751-1755). Tudo pode ser conferido nas mídias sociais, inclusive atividades e comunicados.

Quem faz parte desta história?

Cerca de 20 mil alunos e 420 profissionais – entre educadores e colaboradores - contribuíram para a construção desta trajetória, na qual é marcada por mudanças, conquistas e influência na sociedade encantadense e regional. O Jornal Opinião Vale do Taquari conversou com algumas pessoas que fazem parte desta longa caminhada.

Atual diretora: Rosemeri Radaelli, 2006/2020

-Iniciei por acaso. Eu precisava trabalhar a noite e a escola era e continua sendo a única com atendimento neste período. Depois fui para a coordenação, mas nunca imaginei chegar a direção, muito menos em meio a uma pandemia-, relata Rosemeri Radaelli, 57 anos.

Conforme ela, são muitos momentos nestes 14 anos no educandário. -Quem está dentro da escola acha que já viu de tudo. Ser portador de más notícias para os pais é desagradável, mas ver os alunos conseguindo resultados, participando de atividades fora da escola, demonstrando educação -não precisa tirar o primeiro lugar, mas tendo uma boa participação -, a gente tem recebido muita premiação e consequentemente mostra que existe um bom trabalho, isso é gratificante-, revela

Nestes 45 anos a mensagem é para os alunos. -Eles são a alma da escola, desejo que fiquem cada vez melhores, porque o mundo está cada vez mais competitivo. Que eles se empenhem, deem tudo de sim, claro, nunca deixando de ser adolescentes. Porém, naquelas 4 horas dentro da escola que sejam alunos, porque eles verão os professores que tem. É como sempre digo, tu recebe o que dá-, enaltece.

Ex- aluno: João Paulo Daltoé, Ensino Médio, 2015/2017

O João Paulo Daltoé, 20 anos, é um dos cerca de 20 mil estudantes que passou pelo Scalabrini. -Sempre tive muito medo do “Scala”. Diante de uma imagem obscura que a própria sociedade desenvolvera, o Educandário, por ser um estabelecimento público, com suas estruturas precárias e pela grande aglomeração de alunos oriundos dessa classificação social, fazia com que me sentisse intimidado, mas ao conhecer me surpreendi. Porém não éramos somente alunos, éramos idealizadores de ações dentro da escola-, relembra.

O momento mais marcante foi na última semana de aula no IEEM Scalabrini. -Fomos de uma simples gincana até salvar vidas! Passamos por momentos delicados, onde fomos invadidos, violentados e abandonados a nossa própria sorte. E de forma alguma nos vitimizamos por isso. Nos fortificamos e entendemos o real valor que o trabalho em equipe pode significar, e que não importa o quão simples são as coisas que temos, que se as conseguimos com humildade e amor, sem dúvida valeu a pena!-, frisa.

Para os próximos anos, o jovem deseja que a escola cresça. -Peço que entendam uma coisa: a escola é aquilo que somos. Não desvirtuem qualquer argumento perante alunos, corpo docente ou por parte da gestão do Estado. Se a escola vai de mal a pior, é porque você, que faz parte dela, permite. Comunidade escolar é: aluno, professor/direção e funcionários, pais, irmãos, vizinhos, tios, avós.... Portanto, se tem alguém que proporcionará a tão esperada “luz do porvir” que o nosso hino fala, é esse pessoal aí, mas todos juntos!-, salienta.

Aluna: Maria Antônia Graciola Scarello, 4º Ano, 2016/2020

Assim como a avó - hoje professora Neura Salete Scarello - e os pais, Maria Antônia Pretto Graciola, de 9 anos, está fazendo parte da trajetória do Scalabrini. Estudante do do 4º Ano, está se adaptando a nova forma de aprendizado. -Estou me adaptando bem a nova rotina, mas é muito melhor ir para a escola, me concentro melhor.

No entanto, apesar deste cenário, o sentimento de fazer parte desta história é de felicidade e gratidão por aprender cada vez mais. -Um dos momentos marcantes foi minha primeira excursão para a Quinta da Estância, em 2016-, conta.

Para o futuro ela deseja que o “Scala” continue formando muitos cidadãos -para poder dizer que também fizem parte dessa história.

Ex – professora: Irma Lourdes de Conto, 1975/2017

É impossível falar do Scalabrini sem falar da Dona Irma, ela que iniciou as atividades no mesmo ano em que nascia o Instituto. Foram 42 anos de trabalho, dedicação e responsabilidade. -Naquela época, muito jovem, cheia de sonhos, fui trabalhar com a 4º série, me lembro até hoje dos rostos dos pequenos. No ano seguinte fui indicada para organizar e cuidar da Biblioteca Érico Verissímo. Tínhamos o momento do conto e eu interpretava os personagens. O brilho no olho e a magia continuam, mas agora são contadas com outros recursos-, comenta as mudanças do tempo.

Para ela, era um prazer ver a biblioteca cheia de alunos. -Tão bom ver os estudantes circulando pelas prateleiras, mas tinha uns que também iam para se esconder, outros paquerar, saudades deste tempo-, recorda.

Entre os momentos marcantes, foi no ano de 2002, quando ela viu a biblioteca infantil do IEEM Scalabrini levar o seu nome. Em 2007, foi convidada pelas formandas do Curso Normal para ser a professora homenageada. A primeira Feira do Livro, na Praça da Bandeira, com as casinhas cheias de estantes do conhecimento foi a mais especial, nestes 25 anos de trabalho. A Festa de São João, sempre com grande mobilização, também ficou famosa pelo seu quentão preparado com tanto carinho.

-Tenho orgulho de dizer que meus três filhos estudaram aqui. Em 2017, veio a aposentadoria e uma grata surpresa. Após modificações na biblioteca, uma nova inauguração e fui convidada para o descerramento da placa. Só tenho a agradecer a família Scalabrini, os ensinamentos, aos amigos que fiz, às pessoas que fizeram a diferença na minha linda caminhada. Meu desejo é que a escola seja referência de ensino na Região. Parabéns pelos 45 anos!-, destaca dona Irma.

Texto: Vanessa Paliosa
Fotos: Vanessa Paliosa/Grupo Encantado de Comunicação