Eduardo Leite visita quatro municípios afetados pelas enchentes no Vale do Taquari
Em meio à grande demanda que o Rio Grande do Sul apresenta após a catástrofe ambiental, causada pelo alto volume de chuvas acumulado entre o fim de abril e o início de maio, o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), visitou, no sábado (18), quatro municípios do Vale do Taquari, atingidos por enchentes ou deslizamentos: Encantado, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Lajeado.
Pela manhã, Leite desembarcou no Estádio das Cabriúvas, em Encantado, e se dirigiu até o Centro Administrativo Adroaldo Conzatti, onde, acompanhado pelos secretários de Logística e Transportes, Juvir Costella (MDB), e de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano, Rafael Mallmann (MDB), se reuniu com prefeitos da região.
Estiveram presentes os gestores de Santa Tereza, Gisele Caumo (PTB); de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon (PL); de Muçum, Mateus Trojan (MDB); de Roca Sales, Amilton Fontana (MDB); e de Encantado, Jonas Calvi (PSDB). Todos pertencem à Associação dos Municípios do Alto Taquari (AMAT) e apresentaram as principais demandas da região neste momento. Também participou da conversa o deputado estadual Gilherme Pasin (PP).
Em Encantado, o desastre resultou na destruição de 390 moradias e danificou outras 1.310, afetando aproximadamente 70% do território local. Dentro das solicitações apresentadas ao Governo Estadual, constam questões de recuperação e limpeza urbana, fortalecimento da Defesa Civil, plano hídrico, perfuração de poços artesianos, gestão de resíduos sólidos, apoio às empresas, construção de escolas, projetos habitacionais, manutenção da arrecadação de ICMS, entre outras.
"Estamos todos no mesmo barco, unidos pelas águas do Rio Taquari. Precisamos de soluções inovadoras e de apoio imediato para enfrentar a crise e construir um futuro mais seguro para todos", declarou Jonas Calvi.
Outro ponto abordado pelos prefeitos foi a infraestrutura local, com diversas estradas prejudicadas por queda de pontes ou deslizamentos. O principal impacto para o Vale do Taquari se dá pelas pontes levadas pelo Rio Forqueta, entre os municípios de Arroio do Meio e Lajeado. Além de transtornos nas ERS’s 129, entre Encantado e Guaporé, e 332, entre Encantado e Soledade.
“Estou com 400 km de estrada do interior destruída, eu preciso escoar a minha produção, eu preciso botar transporte escolar a rodar”, lamenta o prefeito de Vespasiano Corrêa, Tiago Michelon. O município foi afetado diretamente pelos bloqueios na ERS-129.
“Do trevo da cidade, uma parte, até a ERS-129, que é o bairro 21 de abril, que seria um desvio para todo esse fluxo, é precário”, afirma o prefeito de Roca Sales, Amilton Fontana, que solicitou o apoio da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). O município, além de sofrer mais um abalo estrutural, com o centro atingido pelas águas do Rio Taquari, tem agora um enorme fluxo de veículos no trecho da ERS-129 até Colinas, alternativa de acesso entre as partes baixa e alta do Vale.
Mateus Trojan, prefeito de Muçum, abordou a necessidade de incentivo às empresas da região. “Minha empresa de grande porte não abre mais se não tiver algum incentivo maior”, pondera. A prefeita de Santa Tereza, Gisele Caumo, por sua vez, salientou a importância do restabelecimento dos acessos, as perdas na agricultura, destacando a importância da recuperação da rota dos Caminhos do Pão e do Vinho, relevante ligação entre o Vale do Taquari e a Serra Gaúcha. Ela afirmou que neste momento, o município está trabalhando “com recursos próprios”, enfatizando também a solicitação de ajuda financeira ao Estado.
O que disse o governador
Após a reunião, Eduardo Leite se dirigiu ao Parque João Batista Marchese, onde conversou com pessoas que estão abrigadas provisoriamente no local. Lá, ele concedeu uma coletiva de imprensa, esclarecendo os principais pontos abordados no encontro com os prefeitos.
Estradas: “Já estamos disparando iniciativas em várias frentes, naquilo que é de responsabilidade da EGR, já estão sendo encaminhadas obras emergenciais, tanto para fazer a manutenção nas localidades, a gente tem que fazer desvios para ter alternativas a trechos bloqueados das rodovias, da 129, da 130, que ficaram comprometidos, contra pontes que também foram rompidas. E a gente tem convicção de conseguir encaminhar soluções rápidas. Está disponibilizando horas-máquina para os municípios, até R$ 1,5 milhão. Tudo que precisar para poder dar a manutenção nas suas estradas e buscar recompor aqueles trechos mais críticos. Foi um ponto importante da nossa reunião e eu vou ficar aqui cobrando também a nossa Secretaria, o DAER, a EGR, para que a gente possa ter as soluções mais rápidas e possíveis para atender esses municípios”.
Defesa Civil Regional: “Isso é algo que eu também estou determinando à nossa equipe, essa situação caótica que o Rio Grande do Sul vivenciou, alguns aprendizados já tinham vindo do episódio do ano passado. Então soluções mais rápidas poderão ser dadas ao que nós estamos vivenciando agora como construção de moradias e atuação útil. A gente tem a oportunidade também de estabelecer uma nova estrutura de Defesa Civil do Estado, com estruturas também robustas em localidades como o Vale do Taquari, que merece uma atenção toda especial. Abordamos na reunião sobre as intervenções que precisarão ser feitas e que envolvem muitos estudos, que é desde dragagem no Rio, sistemas de contenção, de encostas e outros sistemas de proteção que podem ser colocados, que vão estar como absoluta prioridade na Secretaria da Reconstrução, que é o que nós estamos constituindo, uma Secretaria da Reconstrução do Estado que vai trabalhar sobre esses projetos técnicos, que vai ter uma frente especial dedicada à resiliência, que é a nossa capacidade de nos adaptarmos para conviver melhor com essa situação. Eu sei que aqui a população do Vale do Taquari é certamente muito impactada, porque tinha acontecido o ano passado em setembro, em novembro, novamente uma enchente também que causou tantos transtornos e agora com esta, pode estar com dificuldades de confiar num futuro próximo, num futuro até de médio e longo prazo. Mas eu asseguro aqui a essa comunidade que tudo isso que nós passamos servirá, não apenas de lição para todos nós, mas também de oportunidade para que a gente possa colocar energia, foco e recursos para fazer uma estrutura robusta de proteção e atendimento a essas comunidades mais vulneráveis em relação ao clima, que é o que a gente observa nessas comunidades dos Vales. Nós vamos ter estrutura dedicada, robusta e sistemas e tecnologia a partir de projetos que vão nos permitir ter alertas mais claros, objetivos, que é o que nós já estávamos encaminhando, mas que agora vai ter que entrar numa velocidade para entregar isso o mais rápido”.
Monitoramento de eventos climáticos: “A gente já tinha disparado, a partir daquela situação de setembro, a contratação de um novo radar meteorológico para poder ter mais precisão nas previsões dessas condições climáticas, porque a gente tem hoje, a partir de imagens de satélite e de outros sistemas, mas o radar meteorológico é crítico. E que a gente possa ter a compreensão sobre, no curtíssimo prazo, do que aquelas nuvens que estão se deslocando dentro do local vão trazer, efetivamente. Nós contratamos isso, está chegando esse radar meteorológico para ser implementado, vai ter uma especial contribuição para essa região também, melhor precisão da revisão meteorológica. Montando os termos de referência para contratar os estudos hidrodinâmicos sobre essas regiões para a gente ter melhor compreensão a partir da topografia da região e das condições do Rio e da contribuição que as chuvas trazem, uma melhor visão sobre o que vai acontecer porque, para mim, a grande dificuldade é que a gente sabe que vai chover em grande volume, mas a gente não consegue ter com precisão até que nível a água vai chegar. A gente sai emitindo alertas para os prefeitos, mas trabalhamos, na verdade, com a perspectiva daquilo que já se teve em outros episódios. E o pior episódio que a gente teve vivenciado era o de setembro do ano passado, mas não imaginávamos que podia ser ainda pior do que aquele. Então a gente precisa ter esses recursos de estudos, de tecnologia que nos permitam ter essa melhor visão. Isso está sendo contratado pelo Estado e eu vou me encarregar também de garantir que isso saia o quanto antes para fazer o apoio aos municípios em resgates e assistência às localidades mais atingidas”.
Desabrigados: “Nós temos recursos disponibilizados através do Devolve ICMS, também do PIX SOS Rio Grande do Sul, e estamos trabalhando junto aos municípios aqui para poder viabilizar moradias temporárias, melhores condições nos abrigos, sempre repassando recursos para isso. E estamos com soluções, como disse, a partir do que nós vivenciamos ano passado, já estávamos encaminhando a contratação de empresa para fazer as moradias definitivas, o Estado contratou, então a gente vai conseguir dar a ordem de início de serviços para construções mais rapidamente nesse episódio do que tínhamos a capacidade anteriormente, mas isso ainda envolve a necessidade de identificar terrenos, locais, infraestrutura de hidráulica e de energia elétrica para que a gente possa fazer a construção dessas moradias. A boa notícia é que a gente já tem o contrato com a empresa, então é sobre identificar as áreas e começar a encaminhar a construção das moradias definitivas”.
Depois de Encantado, o governador seguiu para Arroio do Meio, onde visitou a Escola Estadual Guararapes e estradas vicinais e pontes que ligam o município a Lajeado. Ele fez a travessia entre as duas cidades a pé, por meio da passarela flutuante instalada pelo Exército Brasileiro. De Lajeado, Leite foi até Cruzeiro do Sul, município que contabiliza o maior número de mortos e desaparecidos na região, 12 e sete, respectivamente.
Até o fechamento desta reportagem, são contabilizados pela Defesa Civil Estadual 161 óbitos e 85 desaparecidos no Rio Grande do Sul. No Vale do Taquari, são 39 mortes e 29 pessoas desaparecidas. As chuvas atingiram um total de 464 municípios gaúchos, com 2,3 milhões de pessoas afetadas. São computados mais de 72 mil pessoas em abrigos e mais de 581 mil desalojados.
Óbitos e desaparecidos na região
Óbitos: 39
Capitão: 1
Cruzeiro do Sul: 12
Encantado: 1
Forquetinha: 2
Lajeado: 2
Paverama: 2
Putinga: 1
Roca Sales: 11
Venâncio Aires: 4
Travesseiro: 1
Taquari: 1
Desaparecidos: 29
Arroio do Meio: 1
Cruzeiro do Sul: 7
Encantado: 2
Fazenda Vilanova: 1
Lajeado: 5
Marques de Souza: 1
Poço das Antas: 1
Relvado: 2
Roca Sales: 6
Teutônia: 3
Texto - César Augusto Husak
Foto - Luís Gustavo Bettinelli/Prefeitura de Encantado