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Revitalização do Moinho de Palmas no parque Cinquentenário divide opiniões

Domingo, 08 de Novembro de 2020
Moinho de Palmas foi construído em 1950

 

Iniciou no mês de outubro, a revitalização do Moinho da comunidade de Palmas, em Encantado. Construído na década de 50 por Pedro e Albino Hoppe, o empreendimento – importante para desenvolvimento econômico e social – fez parte da história de dezenas de famílias daquela localidade e atraiu pessoas da Região. Agora, a ideia de ser restaurado junto ao Parque Cinquentenário vem gerando polêmica e dividindo a opinião de moradores.

Na época, houve a sociedade de Ernu Markus, Etvino Immich, Victório Dentee, Ernu Dentee e Fridoldo Schmögel que perdurou até meados da década de 70. A partir daí a família de Markus assumiu a administração do Moinho, sendo que o mesmo ficou em atividade até o início dos anos 2000, como conta Ardi Markus. -No início o Moinho fornecia até energia elétrica para a comunidade, por causa da água e da turbina. Era só lâmpadas, não existia geladeira e outros eletrodomésticos. Além do Moinho tinha o comércio, caminhões, eu fiquei trabalhando dos 10 até os 20 anos. Meu pai ficou responsável pelo empreendimento por uns 54 anos. Lá descascavam arroz, tinha quebrador de milho, moenda de cana, se fazia a farinha de trigo, que na época ninguém tinha [os equipamentos]. Inclusive, pessoas de Teutônia tinham interesse em adquirir o maquinário com a ideia de restaurar. Da minha parte nada foi tirado, mas houve saques, volta e meio eu ia dar uma olhada. Arrombaram a porta e levaram as peças menores-, recorda.

Em 2005, surge a proposta da Administração Baixinho Orsolin de comprar o empreendimento. -O pai simplesmente fechou por não ter mais condições de trabalhar e por ser inviável financeiramente. Então vendemos porque eles [Administração] queriam fazer um acesso de Palmas até a Lagoa da Garibaldi – incluindo nosso empreendimento num roteiro turístico -, isso nos motivou a vender justamente para que ocorresse a revitalização. Depois que perderam a eleição, trocou o gestor e não houve mais o interesse. Na época, nossa família buscou informações e questionou se algo seria feito-, explica Markus. Quando houve a desapropriação, o ato contou com o contrato de venda, mas a ideia de revitalizar foi “acertada” informalmente.

O que diz a Administração 

Durante 14 anos a promessa não se concretizou. No entanto, tendo por objetivo fomentar o turismo de Encantado, a atual Administração lança a ideia de criar um roteiro voltado a história e cultura de sua gente e optando por revitalizar o Moinho junto ao Parque João Batista Marchese, como explica a secretária Geral de Governo Paola Silveira. -Quando o prefeito assumiu, ele pensava na parte turística para desenvolver o município, um dos sonhos dele - assim como da comunidade - era revitalizar o Moinho. Foi adquirida a área de terra no parque e ali será construída a Vila dos Imigrantes, que vai ser um projeto muito maior, vai englobar todo esses materiais para contar a história de Encantado. Foi fotografado todo o Moinho para que ele seja restaurado como de origem e ele fará parte da rota, assim como a Lagoa e o Cristo Protetor. A Administração acredita que terá mais visibilidade e visitação junto ao parque-, enaltece.

Conforme Paola, existiu a conversa com a comunidade para saber a opinião das famílias. -Sempre foi uma reivindicação da localidade de restaurar o Moinho, desde a época que havia a Sociedade de Desenvolvimento Comunitário quando o prefeito era vereador. Agora, quando assumiu a gestão, ele colocou a ideia em pauta e planejou de englobar num lugar maior [na vila], porque sabemos de sua importância e faz parte da cidade de Encantado-, relembra.

Para o local onde existia o Moinho a Administração Municipal já tem um projeto. -A comunidade também sempre pediu uma área de lazer, com praça e uma academia e, ainda, vamos construir uma réplica do Moinho para preservar a história deste local. A ideia é muito importante para manter viva a comunidade, manter a roda de chimarrão e as crianças poderão brincar. Vai ter a praça planejada, pensada, muito bonita como a comunidade merece, com a réplica para explicar que ele saiu dali para fazer parte de um projeto muito maior-, revela Paola.

Segundo a secretária, ainda não há previsão de conclusão. -Sabemos que toda revitalização leva tempo, pois é algo peculiar, estamos tendo todos os cuidados para que ele fique o mais perfeito possível.

Moradores lamentam decisão

A decisão de restaurar o Moinho distante do seu local de origem repercutiu nas redes sociais e entre as mais de 100 famílias da comunidade de Palmas. A moradora Ana Paula Guerini Hollmann e o presidente da igreja, Lourival Carlos Signori, contam que foram surpreendidos com a notícia. -Nós já somos muitos prejudicados com o pedágio, aí pensávamos que com o Moinho receberíamos mais visitantes para desenvolver o turismo. As pessoas aqui fazem pães, doces, queijos, por exemplo, porque não ter um cantinho de produtos coloniais e fazer parte do roteiro até o Cristo por este acesso? Acreditamos que faltou o diálogo com a comunidade, tanto que foi em um dia, numa caminhada, que descobri que já estavam demolindo a estrutura. Para nós o Moinho tem muito valor, ele faz parte da nossa história-, relatam.

A comerciante Noemia Cadore Immich, casada com Etholdo Immich, filho de Etvino Immich um dos fundadores do Moinho, lamenta que a revitalização da obra não está sendo realizada na comunidade de Palmas. -Eles deveriam restaurar aqui. Já estamos excluídos por causa do pedágio. Percebemos que o fluxo de pessoas de outras cidades se dava pelo Moinho – faziam registros fotográficos -, inclusive ex-moradores que sempre acabavam visitando o local agora lamentam que a revitalização será no parque-, comenta.

Foi vendo o transporte de materiais em frente ao armazém da família que seu Otávio Cadore, pai de Noêmia, descobriu a demolição. -Não houve um comunicado por parte da prefeitura. Quando fiquei sabendo já estavam desmanchando o Moinho. Víamos passar os caminhões carregados de tijolos e madeiras-, conta.

O casal Antelmo e Carmen Botoni também se opõe a retirada do Moinho da localidade de Palmas, mencionando que o empreendimento poderia fortalecer o turismo local. -Porque não restaurar aqui? São sete décadas do empreendimento. Ao invés de trazer alguma coisa para Palmas, levam embora daqui. Já estamos abandonados pelo pedágio, fazemos promoções e as pessoas não participam. Não houve reunião nenhuma, só ficamos sabendo quando haviam derrubado. A Administração fala do turismo, que vai crescer em Encantado, mas Palmas não pertence ao município? Para nós não tem serventia a praça, já temos uma aqui e quase ninguém usa-, destaca.

Na família Klauck, produtora de uva, as opiniões se divergem. Maurício destaca que o ideal seria manter o Moinho no local de origem, mas entende que dificultaria a manutenção. -Eu tenho dois corações. Acredito que pelo histórico essa revitalização devesse ser mantida aqui no local de origem, mas existe um custo para deixar o espaço cuidado e talvez seja inviável pagar pessoas para essa manutenção, então que se faça lá. Se fosse aqui, acrescenta para nossa propriedade, mas não posso pensar só no meu empreendimento-, frisa.

Silvana, assim como os demais moradores, defende a permanência do Moinho na localidade de Palmas. -Acredito que todo monumento histórico deva ser preservado onde ele teve a sua história, o Moinho saindo daqui, mesmo sendo reconstruído lá, mantendo suas características originais, ao meu ver, se perde alguma coisa. Fiquei bem triste quando soube que a restauração não seria aqui na comunidade-, lamenta.

Klauck salienta que o assunto do Moinho chegou a ser discutido, mas não soube precisar data e local. -Fiquei sabendo, mas trabalho fora da propriedade e não pude participar. Não sei informar se ocorreu aqui ou a Administração chamou para algum outro lugar, mas é uma conversa de muito tempo. Porém, devem existir um contraponto. Temos crianças, essa construção já gerava um tipo de perigo, a gurizada brincava e os pais já sentiam certo temor de elas se machucarem, pela estrutura danificada pelo tempo-, salienta.

Agora, um abaixo assinado tenta reverter a decisão da Administração para garantir a revitalização do Moinho na localidade de Palmas com o intuito de preservar sua história e contribuir para o desenvolvimento turístico, alavancando o comércio e agricultura local.

Texto: Vanessa Paliosa e Alexandre dos Santos
Fotos: Vanessa Paliosa/Arquivo/Divulgação Prefeitura de Encantado

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