
Nesta sexta-feira (31), Encantado chega aos 108 anos de emancipação política, uma história que iniciou em meados do século XIX, com o vale “Encantado”, quando a região alta do Vale do Taquari ainda era coberta por extensas matas e habitada por povos indígenas do tronco Gê Guarani. Embora não se precisem quais as tribos habitam o local, tudo faz crer que fossem os Charruas ou Tapes.
Distintas pessoas chegaram no vale “Encantado” através do rio Taquari e construíram choupanas de pau a pique nos caminhos, envolvendo-as com ramos de palmeiras ou de outros arbustos. Os povos indígenas guaranis que ali estavam observavam de longe o movimento dos indivíduos que chegavam construindo as rústicas choupanas. O número de habitantes foi crescendo e os índios iam se retirando para o interior, onde foi reservada uma área para eles.
As choupanas foram mudadas para construções de casas construídas de madeira serradas ou de tijolos elaborados com terra da margem do rio Taquari, que era amassada e moldada com o formato de caixas. Com as primeiras colheitas, o progresso foi aparecendo.
A primeira exploração do território que se tem notícia deu-se em 1635, com os padres Jesuítas, que iniciaram a exploração do Rio Mbocarirói (Guaporé) e Tebiquary (Taquari), iniciando pelo Rio Boapari (rio das Antas), Taiaçuapé (margem esquerda do rio Taquari). Nos primórdios, antes que o local tivesse nome, Encantado pertenceu a um dos quatro municípios primitivos do Rio Grande do Sul, o da capital do Estado - Porto Alegre.
Segundo contam os historiadores, a origem do nome da cidade Encantado teria origem quando o cacique de uma tribo de índios chamado "Maná" ao navegar pelo rio Taquari com sua canoa, acompanhado por outros dois componentes de sua tribo, ao se aproximar da foz de um riacho, avistaram um vulto branco, sem precisar sua forma, o qual ao pressentir a aproximação dos indígenas, jogou-se nas águas profundas do rio, desaparecendo como que por encanto. Surpresos e "encantados" com aquela visão diante do desconhecido, só foram pronunciar algumas palavras após refazerem-se do susto. Este fato com o tempo se tornou uma lenda, chamada “Riacho Encantado”, tendo o local passado a se dominar, como Arroio "Encantado".
Oficialmente o nome de Encantado apareceu registrado pela 1ª vez no ano de 1856, no livro de registro paroquial nº 38, na localidade de Santo Amaro, onde se lê: "Manoel Joaquim da Silva declara ter uma posse de terrenos na margem direita do rio Taquari, lado de Santo Amaro, no lugar denominado "Encantado", com meia légua de extensão, com uma légua de fundos, mais ou menos, cujos terrenos confrontam-se: ao Norte com o arroio Jacaré, pelo Sul com terras de José Antônio dos Santos Lara, a Leste com o rio Taquari e pelo Oeste com a Serra Geral. Distrito de Santo Amaro, quinze de julho de 1856.
(Ass.) Manoel Joaquim da Silva.”
Com o desenvolvimento do Estado, e com as emancipações, Encantado integrou ainda as áreas dos municípios de Triunfo, Taquari, Estrela e finalmente Lajedo de quem se emancipou.
A colonização da região, se iniciou por volta de 1878, quando o Coronel José Francisco dos Santos Pinto, mapeou suas terras a fim de que pudessem ser vendidas aos imigrantes ou aos migrantes oriundos de outras localidades já colonizadas, notadamente italianos que começaram a chegar ao Brasil em 1875 e que estavam colonizando a serra gaúcha. A colonização e o povoamento do território ocorreram oficialmente a partir de 1882, ano em que se estabeleceram Encantado as primeiras famílias Lucca e Bratti, vindas da Itália. O novo povoado surgiu no vasto território quase virgem, tendo ao sul a colônia alemã de Arroio do Meio. Para o norte e oeste, os povoamentos já florescentes de Soledade e Passo Fundo, visto que a colonização de Guaporé só se iniciaria em 1892.
Por volta de 1910 as comunidades da região alta, integradas pelo Distrito de Encantado, que desde 1891 integrava o município de Lajeado, e os povoados de São José da Anta Gorda (Borguetto), Santo Antônio do Jacaré (Relvado) e Nova Bréscia (Arroio das Pedras), passam a pensar em emancipação, como forma de alavancar o progresso regional.
Então, uma comissão, chamada 7 de Maio de 1914, integrada pelos núcleos de Encantado, Anta Gorda e Itapuca, encaminha ao então governador do Estado, Dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros, um memorial solicitando a criação do novo município, tendo por base territorial as áreas do 2º (Encantado) e 4º (Anta Gorda) Distrito de Lajeado, e 9º (Itapuca) Distrito de Soledade, cuja sede ficaria em Encantado.
Às vésperas da emancipação, Encantado possuía três ruas: Júlio de Castilhos, Marechal Deodoro e Tiradentes. A população distrital alcançava 7000 habitantes, a de Anta Gorda 8600 habitantes e a do núcleo colonial Itapuca (Soledade) 3843 habitantes, e em 31 de março de 1915, o Governo do Estado com a publicação do Decreto Nº 2.133, eleva o povoado à categoria de Vila com a denominação de “Município de Encantado”, com área inicial de 1.306 quilômetros quadrados, às margens do Rio Taquari e tendo como limites: ao Norte, Soledade e Guaporé; ao Sul, Lajeado e Estrela; a Leste, Guaporé e Estrela; ao Oeste, Soledade e Lajeado.
Com o posterior desenvolvimento de toda a região, a partir desta área inicial, foram emancipados os municípios de Arvorezinha, Putinga, Anta Gorda, Ilópolis, Relvado, Doutor Ricardo e Nova Bréscia, que era Distrito de Arroio do Meio, mas que quando da emancipação herdou parte das terras de Encantado.
Mesmo com as emancipações, Encantado, graças ao trabalho de sua gente, continuou a crescer de forma pujante sendo berço de grandes empresas, tanto na área comercial, como industrial e da área de serviços, sendo hoje polo regional da região mais alta do Vale do Taquari.
Nos dias atuais vive momentos de progresso e de grandes expectativas em relação ao turismo. Onde a construção do Cristo Protetor, atrai os olhares internacionais sobre a cidade de Encantado e impulsiona a criação de dezenas de empreendimentos voltados ao turismo a cada ano, projetando dias de muito desenvolvimento não só para Encantado, mas para toda a região.
Encantado comemora seus 108 anos, acreditando que estamos iniciando aqui, um caminho que com toda a certeza levará a comunidade local e regional à um futuro de desenvolvimento e progresso.
TEXTO - José Raimundo Tramontini e Mariana Gomes Puchalski
FOTO - Divulgação/Prefeitura de Encantado